Impressões da viagem que realizamos no último fim de semana:
Uma viagem começa com um impulso, ou antes, uma intimação que toma o homem e o impele a ir-se. O convite destinou-se a nós, para sermos também parte do início de uma estória.
Se isso é um começo (tanto da estória quanto da viagem), depende da visão de quem observa: para os Amigos, companheiros de viagem, era necessário saber o início de tudo, que eu não sabia dizer. E como todos estavam curiosos a respeito, partimos nós - Ana e eu - ao seu encontro em Franca. Dali, deliberações e, em seguida, seguimos para testemunhar a união de dois outros, o que já é por si um motivo muito justo, em São Gotardo.
Para minha cara, como para qualquer uma, tudo é um doce tormento: escolha das roupas, ajuda nos preparativos, o que levar, insinuar-se sempre presente em tudo. Porque, assim como já dizia o poeta: "Para a mulher, o homem é sua religião". A nós, reles mortais, que delas dependemos, cabe-nos o papel de atravessadores, armadores da Cia. das Índias, questões de logística. Planejar para ver bem percorrida a viagem.
- E que ela seja tranqüila...
Quinta - dia 21/09
Com a ajuda e o bom conselho dos pais (que nos abençoam), fomos de ônibus, para poupar energia e recursos. A chegada na madrugada foi marcada por um engano: o condutor do ônibus, que tinha antigamente sua rota cotidiana bem marcada, nos facilitaria a chegada ao solar de meu pai; mas eis que ele passaria ainda mais próximo e, sem avisar nada, deixa-nos distantes duas quadras a mais de uma merecida noite de descanso. Valeu ao menos observar uma cena singular à meia-noite: mãe e pai jogando bola com filhos em frente ao local de seu sustento.
Sexta - dia 22/09
No dia seguinte, os compromissos, aparentemente deixados para trás, ainda convocam-me a dar-lhes o devido fim. Assim, expôr sobre o que fazemos no trabalho é refletir sobre os passos dados. No fim do dia, depois de encerrado o expediente, a satisfação do dever cumprido e a sensação de que uma boa conversa na casa paterna, sob os cuidados de uma terna mão materna sobre o tempero da boa comida, foi desperdiçada. Trabalho e família: que equação impossível.
À noite, o planejamento final da viagem, horários e últimos acertos. Aqueles dentre nós que foram os primeiros a unir-se entre si nos faltam. Mas é como se sua sombra estivesse ali.
Sábado - dia 32/09
É chegada a hora. O roteiro? Minas.
Passado o rio Grande, esta fronteira, antigamente difícil de ser transposta, agora retido por represas e pelos artifícios de armadores anteriores, é facilmente atravessada pela ponte. Não é o mar e ainda sim é imenso. Seguimos em terras ancestrais.
Minas é o sertão. "E o sertão é o mundo", dizia Rosa. Modo diferente de entendimento das coisas, que não têm o sentido comum que lhes atribuímos aqui. Parece que a terra, os animais, os homens sossegam, mas não é bem assim. Quais são as tantas paixões represadas que não surgem na superfície?
Partida atrasada. Somos os culpados, sabendo que o planejamento é, no fundo, somente uma intenção a ser desfeita. Viagem entrecortada por paradas. Nem todos acostumam-se com que a estrada impõe-nos a todos. Isso é falta de espírito de endurancia, mas como exigir de pessoas que já se desgastam no dia-a-dia?
Numa das paradas, uma cadela de olhos claros tão intensos nos implora comida. - Gui, como recusá-la? Ana e seu coração imenso. Sabe que a pobreza se mede não pelo que temos ou não, mas por saber tudo aquilo que nos falta. A busca do que nos completa.
Cristais, Estreito, Pedregulho, Rifaina, Sacramento, Desemboque, Araxá, Ibiá. Destinos e roteiros antigos. Idéias para futuras viagens. No momento, etapas a serem atingidas e novamente deixadas. Quem sabe outra vez, a gente não possa... Quem sabe.
Chegada ao meio-dia. Ótima recepção. Victor Hugo dizia "O reencontro é o maior espetáculo da terra". Um ótimo banho gelado. Um Tutu à mineira maravilhoso. Um sorvetinho. Uma breve sesta antes do casamento.
Assim, o que exigir? Temos direito? Bem, teríamos direito a pedir para o dono do som defronte ao hotel em que estávamos desligar aquela bizarrice (leia-se: música) e deixar-nos descansar ao menos um pouco. Porém, nessas horas, vale a regra de ouro de todo o viajante que funciona para quase todas a situações: "Na terra dos outros, faça como eles!" Se ninguém foi reclamar, é porque muitas vezes não se pode nem se deve. Mas o som pára e deixa-nos ao menos com a breve sensação do que teria sido um bom descanso.
Ainda no hotel, subitamente sou chamado: é o noivo. Está apreensivo.
- Um convite? Claro.
Vou ao seu quarto.
- Que eu leia um trecho na cerimônia? Isso muito me honra.
Que bela postura a sua, meu amigo! Muitos temem e até amaldiçoam o momento de fazê-lo. Você o abraça em júbilo e canta em seu louvor.
- Que bela canção, Ful! Cântico dos Cânticos?
Suas pernas tremem.
- Coragem, irmão. Agora é que tá tudo certo. Te vejo lá, no altar!
Uma bela igreja. Uma cerimônia simples, como são simples e boas essas coisas da vida. A felicidade deles, dos pais, parentes, amigos, estampada. Seu Murilo abraça até os músicos. Fúlvio chorando. Rosas às damas. Minha morena rosa.
Festa. Meninos em disparada. Queda incrível e não vista de Rodrigo.
Valsa. Um baile. Quem sabe, uma ajudinha aos noivos.
Val pisando em nuvens. Todas as outras lhe têm inveja e sonham.
- Que sono, Gu! Sim, levo-os ao hotel.
Um caldo, Rô? Onde? Uma única opção na cidade, a 30 passos do hotel. Vamos, então.
Outro Rodrigo, que não é o mesmo, e sua pequena, sendo aquele que não via há muito, unem-se a nós. Um bom dedo de prosa. Sim, esse também é daqueles que vê adiante.
- Bituca, Vanessa? Aqui?
De costas, o músico em momento familiar reseva-se o direito de não ser ele mesmo. Muito justo para quem trabalhou tanto, assim como todos nós.
- Ô, Rodrigo, ele não é nosso parente, embora o pareça.
Afinal, todos os dias os vemos, eles nos são entregues à porta de nossas casas, no rádio, na TV, quase que impostos. Mas não são da família.
- Meu amigão, serei franco contigo: você ainda reclama de falta de atenção e suposta cordialidade? Mas tu nem é fã do homem... HAHAHA.
Então, vamo-nos, minha Ana e eu, descansar.
- Boa noite, Rô e Van! Um abraço forte, meus caros! Boa viagem a terra natal de seu Carlos!
Domingo - dia 24/09
Um bom café da manhã. Uma prosa para atualizar os que estavam ausentes no ocorrido.
Encontro com os noivos.
- Viu, Ful? Você não é o mesmo hoje?
Sim, são Val e Ful, mas há algo de perpétuo neles.
Preparativos para o retorno.
Saída às 9:15h. Parada às 11/15h em Araxá. Bela cidade. Fica a sugestão de outra boa viagem.
Chegada em Franca às 13:30h.
- Demora?
Mas viajar é isso. Um plano a ser seguido, nem sempre cumprido.
- Abraço, caros Gu e Társia. Até a volta! Veremo-nos em breve.
Seguimos para a casa paterna. Um descanso. Um bom almoço. O contar dos ocorridos.
17:00h. A volta para casa. Descanso? Nem tanto. Aí sim, foi cansativo. O ônibus da Cometa faz tudo para aparentemente ser confortável. Mas não o é.
21:00h - Chegada à casa da Aninha. Coitada, essa aí me agüenta.
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