quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Kapuscinski: suas crônicas africanas e o nomandismo na atualidade.

Do livro Ébano: minha vida na África, retiro esse trecho que sintetiza bem o tipo de olhar, demorado ou apressado, que lançamos ao mundo globalizado. É evidente perceber que o conceito idealizado de mundo global para o polonês falhou, já que as comunidades filtram frequentemente o que chega de fora. Não é à toa que o dito trecho pertence à sua palestra sobre Ruanda, país isolado até pouco tempo no cenário colonial e neocolonial, que somente recebeu atenção devida no fim do século XX e que foi principalmente motivada pelos massacres mal noticiados à época.

A experiência de leitura da obra têm sido fascinante: a vida cotidiana nos países africanos, a impossibilidade de se inserir integralmente na cultura (já que Kapuscinski é polonês e, logo, europeu e branco), a precariedade de condições de vida e de sobrevivência em várias situações de risco extremo, o testemunho in loco da independência desses países e, em muitos trechos, a explícita preocupação de se prostar às mesmas condições da população miserável e inscrevê-los (para, assim, não esquecê-los).

Leitura altamente recomendável...

Eis o trecho:

"(...) Nosso mundo pseudoglobal é, na verdade, um planeta de milhares de províncias diferentes que nunca chegaram a se encontrar. 'Viajar pelo mundo' consiste em se deslocar de uma província a outra, e cada uma delas é uma estrela solitária brilhando exclusivamente para si. Para a maioria de seus habitantes, o mundo real termina na soleira da porta de casa, no fim de seu vilarejo ou então, no máximo, nos limites de seu vale. O mundo mais além é irreal, sem importância e, até, desnecessário; este, que está ao alcance das mãos, dentro de seu campo de visão, adquire a dimensão de um gigantesco cosmo que encobre todo o resto. Na maioria das vezes, o habitante local e o forasteiro têm dificuldade em encontrar uma linguagem comum por adotarem cada um lentes diferentes para observar o mesmo lugar: o forasteiro utiliza uma objetiva grande-angular que lhe proporciona uma visão distanciada e diminuta das coisas, mas, em compensação, ela lhe permite enxergar a extensa linha do horizonte; o habitante localsempre usou a teleobjetiva, e até mesmo o telescópio, que ampliam os menores detalhes".

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá professor Guilherme!
encontrei o seu blog por acaso, estudando para a prova de hoje!
Não tive tempo de ler com atenção os seus posts, mas assim que puder, eu volto.
ah! aqui é a Carol Parducci, do 3° semestre de Letras da FAC 3, lembra de mim? rsrs
abraço professor, até mais!